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carta #2
sobre a série que mudou a minha vida
Me acompanhar de 2021 pra cá em qualquer rede social com certeza já te colocou na posição de me ouvir falar incansavelmente sobre Crazy Ex-Girlfriend. Eu até gostaria de fazer uma introdução bonitinha e enrolada, mas quero ir direto ao ponto: tentar te convencer a dar uma chance pra série que mudou a minha vida enquanto me desafio a fazer isso sem soltar grandes spoilers (talvez apenas algumas pitadinhas do plot pra te deixar interessade).
S01E01
Começando pelo óbvio: Músicas!
Eu entendo que musicais não são muito atrativos pra muita gente e é um dos primeiros “uhhh, não vai rolar” que eu costumo ouvir. Não vou focar no gênero musical em si (apesar de ser um ponto muito positivo pra mim), e sim na relação das músicas com o desenrolar da série. Naturalmente, as letras e melodias vão acompanhando o desenvolvimento da série - em especial da Rebecca, a protagonista. Mas tem duas coisas que eu gosto de destacar aqui:
As melodias se repetem em momentos pontuais da série que remetem, de alguma forma, o momento no qual ela foi primeiramente apresentada. As primeiras notas de “Oh My God, I Think I Like You” sempre me causam arrepios quando aparecem nas vezes posteriores à primeira aparição. É sutil, mas está presente e conversa perfeitamente com o novo-velho ou velho-novo (conhecido, mas definitivamente diferente) acontecimento. Outra que tem um encaixe perfeito é "We Should Definitely Not Have Sex Right Now” - essa não me causa arrepios, e sim uma gargalhada sincera toda vez.
A relação da Rebecca com a música. Essa é mais difícil de explicar sem derrapar em um spoiler pequeno-porém-essencial da história. Mas existe um motivo, na história da Rebecca, pra série ser um musical. O fato de ser um musical é importante e faz parte do desenvolvimento dela. Não faria sentido, de verdade, se fosse outro formato. Existem alguns sinais disso na primeira temporada, mas é uma revelação de fato na última.
S01E15
Me lembrou de sonhos e amores
De forma bem objetiva, Crazy Ex-Girlfriend me fez entrar pro teatro. E me fez lembrar que eu amo cantar. Tenho poucas lembranças da infância, mas lembro que cantar sempre foi uma paixão. De forma complementar, sempre ouvi o clássico “a Taísa é uma artista!” - mas por muito tempo resumi isso às ilustrações; jamais imaginei que o teatro podia estar no meu caminho.
Não sei exatamente quando ou por quê eu deixei essas coisas quietinhas em algum canto da minha mente, com a luz apagada e a porta trancada. Mas sinto que a Rebecca trouxe uma chave perfeitamente modelada e lidou com qualquer perrengue de eletricidade existente nesse cantinho.
E aí eu entrei pro teatro. E foi uma das decisões mais acertadas da minha vida.
E agora eu vou fazer aulas de canto. E já é uma das decisões mais acertadas da minha vida.
Passei tempo demais buscando todas as respostas no amor romântico (fica pra outra newsletter). Foi só perto dos 30 que eu fui entender que não tem resposta nenhuma nele; só tem resposta em mim.
Sendo sincera, tenho plena consciência que essa experiência com a série é só minha - porque, no fim do dia, muitas experiências são únicas mesmo. Mas tenho também um risquinho de esperança (ou simples desejo) que a trajetória da Rebecca desperte os amores e os sonhos adormecidos de quem mais a assiste, como foi (ou é) comigo.
“You loved that play, you loved theater, and you loved music... Love doesn't have to be a person. It can be a passion. And that passion has sustained you for much of your life.”
S02E03
Preciso falar de não-monogamia
A série é bastante monogâmica. O caminho trilhado pela Rebecca (e pelos outros personagens) é totalmente moldado na Monogamia de mãos dadas com o Amor Romântico. Eu poderia entrar no argumento de que a não-monogamia teria sido a salvação da série, principalmente na reta final; mas sinceramente não acredito nisso.
Existe um breve momento, na segunda temporada, em que esse assunto surge de certa forma. Fala de poliamor (not my cup of tea, mas é assunto pra outra newsletter) e tem uma das melhores músicas da série. É superficial e irônico, de uma forma leve e gostosa de assistir.
E existe um momento nada breve, a partir do final da terceira temporada, em que esse assunto não surge ativamente, mas simplesmente acontece. Não tem como explicar sem dar spoiler, só posso dizer que é um dos meus momentos preferidos da série. É um acontecimento (ou uma série deles) que representa perfeitamente o que eu entendo por não-monogamia - de uma maneira muito mais coerente do que muitas mídias que se propõem a falar do assunto de forma direta. Foi uma surpresa gostosa demais acompanhar isso e sentir o coração quentinho porque… é isso.
Além dessa situação pontual, e ainda que exista muito resquício e direcionamento de Amor Romântico no final da série, também é justo olhar para todos os pequenos-grandes rompimentos com as regras sociais monogâmicas que a série propõe. De novo, ainda que não ativamente planejado, e mesmo que a passinhos de formiga, o coração fica quentinho e alegre.
S03E10
A magia da narrativa nos detalhes
Entre inúmeros detalhes que eu notei da primeira vez que assisti até a atual (Sexta? Sétima? We may never know), uma das coisas que me conquistou na narrativa foi: nome dos episódios. Em português, infelizmente, esse sentido se perde; mas os nomes originais têm um padrão específico em cada temporada, que acompanham o desenvolvimento da Rebecca e suas situações emocionais. Não se resume apenas aos nomes em si, mas sim ao detalhe na sua escrita.
Na primeira temporada, todos os episódios contam com o nome do Josh e terminam em ponto de exclamação.
Na segunda temporada, o nome do Josh aparece em toda a lista novamente - mas dessa vez, terminam em ponto de interrogação.
A terceira temporada conta com alguns outros nomes e uma sequência parecida com a primeira e a segunda; a maioria dos títulos termina com um ponto final.
Na quarta e última temporada, não há nenhum nome em nenhum título de episódio. Todos começam com “I” e não tem ponto nenhum - nem final, nem de exclamação, nem nada.
Isso tudo faz MUITO sentido. Mesmo.
Eu honestamente poderia fazer uma newsletter inteirinha sobre isso, também. Sigo no desafio de não dar spoilers, mas vou linkar abaixo um vídeo que tem vários spoilers (indico ver depois da série, mas também pode ser um incentivo a assistir). Ele fala sobre os títulos dos episódios e também sobre as transições nas aberturas, e tudo faz sentido de uma forma tão bonita e artística.
É arte. Arte pura, de coração.
Por fim, é só o começo
Eu tenho muitas semelhanças com a Rebecca e eu sei que isso ajuda muito a ser tão apegada a essa série e a essa personagem. A gente tem o mesmo transtorno, e esse foi o motivo principal de eu assistir a série pela primeira vez. Mas eu não imaginava que seria tão significativo, nem que eu teria tantos outros motivos pra assistir tantas outras vezes.
Além de assistir do início ao fim algumas (várias) vezes, também me pego assistindo alguns episódios aleatórios eventualmente. Eu sempre descubro algo novo - um dos motivos de eu não cansar de reassistir. Eu gosto de decorar as falas e me dar conta que estou fazendo monólogos da série em algum dia aleatório. Gosto de cantar todas as músicas - até mesmo as que eu acho chatas. Gosto de lembrar de tudo que eu amo e gosto de me aproximar cada vez mais de quem eu sou e ousar cada vez mais ser quem eu quero ser.
A trajetória da Rebecca clareou muitos pontos da minha trajetória. Ela me fez ver a vida de outras formas e me ensinou coisas que eu ainda nem sei elaborar.
Talvez o maior impacto é que um tempo atrás eu diria que ela me salvou, mas na verdade ela ligou uma lanterninha pra me ajudar a enxergar na escuridão.
S04E17
Eu ainda tenho muito pra falar da Rebecca e da série que mudou a minha vida. Mas acho que eu preciso de muitas mais newsletters pra fazer isso.
Obrigada por acompanhar até aqui. Espero ter te convencido! E até a próxima. 👻
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